"Disse que as vezes sou impaciente com as pessoas. Tentei explicar a Eva que fico intolerante com as pessoas que não me entendem. Por que no fundo sou muito fácil de se entender. Bem, quer dizer, pelo menos é o que me parece".
(Análisa Mediúnia / Pág. 474)
Uma Clarice Lispector “um pouco sem jeito” apresentava-se a seus
leitores, em setembro de 1967, cerca de vinte dias após estrear como
colunista do Jornal do Brasil. Esclarecia seu desconforto em escrever
por encomenda, algo que fizera, na imprensa, anonimamente. “Assinando,
porém, fico automaticamente mais pessoal. E sinto-me um pouco como se
estivesse vendendo minha alma.” Ao longo dos seis anos seguintes, a
escritora aproveitou aquele espaço das formas mais variadas: ela
discutiu acontecimentos recentes, filosofou sobre a existência, tratou
de acontecimentos cotidianos, falou de sua família e de suas angústias, e
até antecipou trechos de seus romances inéditos. Esse vasto material
foi reunido na coletânea de crônicas A descoberta do mundo, em 1984. Confesso que a minha visão sobre Clarice Lispector e seus textos mudou um pouco depois desse livro. São histórias deliciosas de ler, apesar de ser um livro grande e que possa em certo ponto deixar algumas pessoas com o pé atras eu garanto a você que a cada crônica a vontade de ler a proxima será ainda maior. Pra mim não só foi a descoberta do mundo mas de uma nova Clarice Lispector.
"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espirito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.
(Não entender/ Pág. 172)
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